sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Mais Engenharia e Mais Engenheiros



Nos meses de fevereiro e março deste ano, desenvolvi neste blog a série “A Engenharia e seu Ensino”, quando tive oportunidade de destacar alguns pontos importantes para calibrar a relação entre oferta e demanda por engenheiros, para comparar a situação nacional com a de outros países e para identificar as causas da grande evasão de pretendentes a essa opção de carreira. Iniciei aquela série repetindo a constatação internacional de que: “a existência farta de engenheiros, tecnólogos e de outros perfis profissionais semelhantes é um ingrediente essencial para alavancar e sustentar o desenvolvimento econômico e social dos respectivos países e regiões, incluindo a fração daqueles, que não atua diretamente nas funções específicas da Engenharia”. Decorrido quase um ano do término da referida série, estou voltando ao assunto para uma abordagem mais atualizada e para algumas comparações objetivas, no propósito de enfatizar, ainda mais, a necessidade brasileira de formar um contingente muito maior de engenheiros qualificados.
Depois que a Europa, os EUA e o Canadá sustentaram o seu desenvolvimento com o concurso de um vasto contingente de engenheiros (movimento iniciado na Inglaterra durante a Revolução Industrial do Século XVIII, época em que a profissão ainda estava sendo formalmente estruturada, mas que já contava com os embriões das corporações de mecânicos habilidosos e com a participação de tecnólogos e cientistas independentes), os assim chamados “tigres asiáticos” trilharam o mesmo caminho (a contribuição dos engenheiros tem sido particularmente notável no desenvolvimento do Japão e na arrancada subsequente da Coréia do Sul e da China). Esse modelo foi percebido, no mundo globalizado, como o caminho mais direto e seguro para que todas as demais nações possam alcançar níveis mais elevados de prosperidade e de bem-estar.
Para não fugir da nossa vizinhança cultural e geográfica, é interessante observar o que está acontecendo no México. Aquele país latino-americano percebeu essa relação de causa e efeito e passou a incorporá-la no seu planejamento nacional. Ali já existe um contingente de 580 mil estudantes de Engenharia, uma cifra muito significativa, já que esse número é superior ao total observado na Alemanha (país que sempre se apresentou em posição preponderante no ranking de densidade de engenheiros). Além disso, é um contingente superior ao observado no Brasil (sabendo que a nossa população é quase duas vezes superior à mexicana). Com esse esforço, o México ultrapassou os EUA na relação do número de estudantes de Engenharia para cada grupo de mil habitantes (4,9 contra 3,6) embora a produtividade dos engenheiros norte-americanos ainda seja 30% maior que a dos mexicanos.
Essa política já está apresentando resultados práticos. E muito exitosos. De início, os engenheiros mexicanos foram os responsáveis pelo ressurgimento da indústria automotiva naquele país, com escala significativa e com elevado grau de competitividade no mercado mundial. Mais recentemente, os mexicanos estão dando outro passo importante ao estabelecerem no seu país um núcleo variado e capacitado para o desenvolvimento de pesquisas e para o projeto de componentes e de modelos com aplicação na indústria automotiva globalizada. Dentro em breve, poderemos acompanhar a substituição dos apreciados veículos fabricados no México, por modelos projetados e desenvolvidos por mexicanos para industrialização em escala mundial. Algo semelhante ao que aconteceu, em menor escala, na consolidação de um polo aeronáutico no Brasil, a partir da contribuição do ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Esse é apenas um exemplo setorial dos benefícios que podem resultar da adoção de uma política de Estado destinada a reforçar a formação de engenheiros em cursos de qualidade.
A propósito, se estamos interessados em atrair jovens vocações para a área da Engenharia e em dar um choque de qualidade nos nossos cursos nesse campo, além de olhar para o exemplo mexicano, teremos que examinar, também, os resultados recentes alcançados pelo Brasil no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, desenvolvido e aplicado pela OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Infelizmente, caímos mais quatro posições no ranking de 65 países que participaram do PISA (53ª para 57ª posição, ou seja, no fim da lista). E o que é mais grave: a nossa pequena melhoria no ensino da matemática (de 386 para 391 pontos) equivocadamente festejada por muitos, foi bastante inferior à conseguida pelos países que estão empenhados seriamente no crescimento educacional. Encerro com a mesma afirmação destacada na série “A Engenharia e seu Ensino”: o aprendizado deficiente da matemática no Ensino Médio assusta e desvia pretendentes aos cursos acadêmicos de Engenharia. Precisamos mudar isso com urgência.

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