terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Setor imobiliário vietnamita recupera otimismo, mas com cautela

Em 2010, ele alugou um terreno vazio no centro da cidade, onde a construção praticamente parara e instalou uma grelha. Ele acrescentou móveis caseiros de madeira querendo passar a imagem de um "saloon" – motivo inspirado por seu amor aos faroestes norte-americanos. A fama dos banquetes móveis começou a se espalhar no Facebook e em questão de meses ele alugava 15 terrenos por valores entre US$ 1 mil a US$ 5 mil mensais.
Porém, enquanto o setor construção começa a recobrar o fôlego, Thien se viu reduzido a cinco endereços. Algumas das antigas churrascarias estão pontilhadas de guindastes e betoneiras e, a seu ver, dentro de três anos ele se verá forçado a procurar uma linha de trabalho totalmente nova.
O sitiado mercado imobiliário vietnamita dá sinais de recuperação justamente quando os indicadores macroeconômicos se estabilizam e o Partido Comunista, no poder, faz novas promessas de reformar um setor bancário cambaleante e assolado pela corrupção, dizem incorporadoras imobiliárias e empresários vietnamitas daqui, a capital comercial do país. E se o Vietnã assinar a Parceria Transpacífico, proposta de acordo comercial envolvendo uma dúzia de países, talvez estimule a economia vietnamita e acelere a recuperação do mercado imobiliário.
Todavia, embora os preços de aluguel tenham caído para 12,8 por cento, contra 20,3 por cento em 2011, ninguém no Vietnã sabe se o mercado pode retomar o recorde atingido antes de 2008, muito menos se as estatísticas ou compromissos do governo de bancar a reformas são confiáveis. Por enquanto, o mercado de apartamentos de médio a alto padrão continua com excesso de oferta nesta cidade e na capital, Hanói.
"Vai demorar outro ano antes de as coisas ficarem mais claras. Agora está tudo confuso. Porém, quando se fala com investidores estrangeiros, muitos deles que estão agora aqui no Vietnã sabem que esta é uma boa hora para comprar", afirmou Trinh Bao Quoc, CEO da Son Kim Land Corp., construtora local.
Aqui os índices oficiais dos aluguéis, agora entre US$ 20 a US$ 30 por metro quadrado, começaram a subir no final de 2012 pela primeira vez desde 2007, segundo a CBRE, imobiliária de Los Angeles. E nos últimos meses, o preço médio de venda de habitações residenciais populares de Hanói tem se mantido estável na casa dos US$ 800 por metro quadrado, depois de caírem abruptamente durante dois anos.
Alguns investidores estrangeiros compraram imóveis por aqui neste ano, sinal de que os corretores interpretam como sinal de aumento da liquidez e da confiança do investidor. Alguns grandes projetos de construção estão em andamento, incluindo uma torre que vai sediar o primeiro Ritz-Carlton do país.
E em julho, o Vingroup, incorporadora imobiliária do Vietnã, abriu o maior shopping vietnamita, com área útil total de mais de 200 mil metros quadrados. Segundo o porta-voz da empresa, 53 por cento das 4.518 unidades de um novo complexo de apartamentos nos arredores haviam sido vendidas, e 29 por cento foram arrendadas por 50 anos.
"Nós acreditamos que o mercado imobiliário está se recuperando bem agora e esperamos uma virada positiva até o final deste ano ou começo do ano que vem", disse Le Thi Thu Thuy, CEO do Vingroup.
Contudo, o desempenho da economia do Vietnã tem ficado abaixo das previsões que acompanharam sua entrada, em 2007, na Organização Mundial do Comércio, e a taxa anual de crescimento na casa de 5,3 por cento é a menor em menos de uma década. Um dos principais obstáculos à recuperação econômica se encontra no fato de que os bancos locais estão amarrados a dívidas incobráveis ligadas a investimentos especulativos imobiliários.
O crédito vem se restringido desde que o mercado começou a desandar em 2008, e em julho o governo criou uma empresa de gestão de ativos encarregada de comprar dívidas irrecuperáveis no setor bancário. Em setembro, o primeiro-ministro, Nguyen Tan Dung, também prometeu elevar o limite à propriedade estrangeira em bancos locais de 30 por cento a 49 por cento.
No entanto, analistas dizem que muitas dessas dívidas incobráveis continuam atreladas a imóveis.
"Existem os primeiros indicadores de que o mercado está começando a se mexer, o que não elimina o fato de que o setor bancário ainda tem de solucionar a si próprio", disse Stephen Wyatt, diretor para o Vietnã da Jones Lang LaSalle, multinacional do setor imobiliário.
Os legisladores vietnamitas vêm debatendo projetos de lei destinados a permitir que estrangeiros comprem mais de um apartamento, garantam os direitos do apartamento arrendado por mais do que o limite atual de 50 anos e comprem terras, declarou em novembro David Lim, advogado da Cidade de Ho Chi Minh City, que é consultor do governo sobre a reforma agrária.
Lim explicou que os projetos de lei estavam codificando anos de reformas parciais e clareando áreas sombrias. Eles devem ajudar o país a competir por investimento externo com os vizinhos do sudeste asiático, acrescentou o advogado.
E construtoras locais estão modificando o hábito de construir torres de apartamentos elevadas pensando apenas em consumidores ricos, segundo corretores imobiliários. Wyatt, da Jones Lang LaSalle, declarou que os compradores de imóveis populares dominavam as vendas residenciais ali, e que o exemplo típico é um apartamento de 50 a 70 metros quadrados vendido pelo equivalente a US$ 30 mil.
Don Lam, CEO do fundo gestor VinaCapital, afirmou que muitos casais de classe média estavam mais interessados em casas do que em apartamentos e que sua empresa vinha se concentrando em uma nova área de crescimento potencial – condomínios fechados ao estilo norte-americano nos subúrbios, com unidades de três dormitórios a um valor aproximado de US$ 200 mil.
Ainda segundo Lam, embora as reformas política e bancária sejam muito necessárias no Vietnã, o mercado imobiliário iria se recuperar com ou sem a ajuda do governo.
"Compradores e vendedores não estão esperando", ele disse num escritório no 17º andar com vista panorâmica da paisagem modesta da cidade. "Estão acontecendo transações."
A Warburg Pincus, empresa norte-americana de investimentos, liderou um consórcio que, em maio, prometeu investir US$ 200 milhões para comprar cerca de 20 por cento da participação acionária na Vincom Retail, subsidiária do Vingroup. Corretores e administradores de fundos afirmam, sem citar ofertas específicas, que a negociação deve ser a primeira de uma série por parte de grandes investidores internacionais.
Para outros empresários, no entanto, embora as incorporadoras vietnamitas tenham saído de forma relativamente incólume de quedas anteriores no setor, as dívidas atuais são grandes e a crise bancária como um todo pode ser mais severa do que o governo admitiu.
O ABB Merchant Banking, banco de investimentos com sede em Hanói, analisou recentemente 61 empresas imobiliárias e construtoras da Bolsa de Valores de Ho Chi Minh e constatou que eram negociadas por até 30 por cento abaixo do valor patrimonial.
Já Frederick Burke, sócio-diretor da sucursal vietnamita da Baker & McKenzie, banca de advogados norte-americana, afirmou que embora houvesse uma percepção entre as incorporadoras locais de que o mercado imobiliário estivesse se recuperando, a logística do segmento no Vietnã era espelhada na burocracia tediosa que inibiria uma recuperação rápida. Ainda segundo ele, um projeto típico de construção na cidade leva oficialmente um mínimo de 580 dias do começo ao fim, mas no geral demora bem mais.
"O que os incorporadores vietnamitas fazem?", indagou Burke. "Eles passam a vida indo de um escritório a outro para pegar pedacinhos de papel picotados e carimbados, e depois indo e vindo para picotar e carimbar quando um arquiteto lhes diz que devem trocar de projeto."
Contudo, Thien disse que nos últimos meses os proprietários pediram de volta os terrenos alugados para as churrascarias.
Ele contou que sua próxima ideia é a de uma rede de restaurantes que seriam decorados como oficinas de motocicleta.
O empresário já alugou um local no centro por US$ 3 mil mensais e pretende abri-lo no Natal.

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