domingo, 5 de janeiro de 2014

O mercado imobiliário e o risco da bolha


É verão na Cidade Maravilhosa. Com os termômetros superando os 40 graus e a sensação térmica superando os 50, o Rio de Janeiro até lembra uma sauna.

Porém, o tema deste artigo não é o calor carioca e os problemas já conhecidos do verão nessa cidade que nasceu num morro, estabeleceu o seu coração econômico-financeiro a poucos quilômetros dali e se esqueceu de planejar o restante de seu corpo com cerca de 1.200 km2. Portanto, não falaremos aqui em falta d’água, queda no fornecimento de energia elétrica, tampouco em praias lotadas e inseguras. Falaremos do mercado imobiliário e do risco de a sua bolha explodir ou esvaziar.

Atualmente, o preço do metro quadrado de um imóvel nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília está similar ao praticado em grandes metrópoles internacionais, como Nova Iorque, Paris, Londres e Tóquio. O problema reside no fato de a renda per capita da população brasileira ser inferior a um terço da verificada nos Estado Unidos, França, Inglaterra e Japão e de existir uma grande concentração de renda em nosso país. Com isso, são poucos os brasileiros que ainda possuem condições de adquirirem um imóvel no atual contexto econômico verificado nas três principais capitais brasileiras, sem que isso comprometa o seu orçamento familiar.

O que explica a situação observada atualmente no mercado imobiliário brasileiro é um misto de ganância dos players desse mercado aliada ao ligeiro ganho de poder aquisitivo do que os ideólogos governistas chamam de nova classe média: considerando que o nosso país ainda vive um déficithabitacional muito grande, ao dotar parte da população mais afetada por esse déficit de poder de compra, sobretudo, pelo crédito fácil e a juros subsidiados, o governo contribuiu com o deslocamento da curva de demanda por imóveis para a direita, fazendo com que os preços desse bem nas metrópoles disparassem nos últimos 7 anos. Apesar da contrapartida de oferta por meio de lançamentos imobiliários, não houve um arrefecimento dos preços, pois ainda há muita demanda reprimida por imóveis. Ademais, a ganância de agentes do mercado imobiliário, similar à verificada no mercado nacional de veículos de passeio, que também é um dos mais caros do mundo, impediu a redução dos preços.

Com o crescimento do endividamento das famílias, sobrou pouca poupança para atender ao crescimento sustentável do crédito imobiliário. Por sua vez, o governo também se vê cada vez mais endividado para subsidiar crédito, o que leva à estabilização da demanda por imóveis. Dessa forma, quem pretende investir na compra e venda de imóveis neste momento, terá pouco retorno financeiro, na medida em que os preços tendem a congelar nas metrópoles após a Copa do Mundo e a crescerem em ritmo lento no Rio de Janeiro até as Olimpíadas, após a qual se estabilizarão.

Assim, o cenário que se apresenta para os próximos dois anos, ceteris paribus, é o de uma bolha que tende a, pelo menos, esvaziar, uma vez que é inconcebível a venda de um imóvel com metro quadrado acima de R$10.000,00 em muitos bairros do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, lugares esses que, paradoxalmente, concentram muita renda nas mãos de alguns e muita população em comunidades desprovidas de saneamento básico, segurança e serviços públicos de qualidade.

Ainda em relação ao Rio de Janeiro, somemos ao conjunto de causas da especulação imobiliária local a pirotecnia dos governantes locais resultante de maquiagens urbanísticas e das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que não resolvem os problemas estruturais provenientes da falta de planejamento urbano e da dívida social deixada por gestores públicos ao longo dos 449 anos de história da Cidade Maravilhosa. Estão aí a violência no morro e no asfalto e a falta de qualidade dos serviços públicos essenciais para ilustrarem a situação da cidade às vésperas de grandes eventos. Para quem é morador de comunidade e utiliza ônibus municipal para se deslocar pela cidade, a situação é ainda mais grave: falta a segurança do Leblon, a água da CEDAE, a luz da Light e o ar-condicionado do ônibus, cuja tarifa é uma das mais caras do país. Porém, como bons otimistas que nós brasileiros somos, isso melhorará muito em breve. Basta o povo querer e agir em prol dessa causa.

Pedro Papastawridis

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