sábado, 25 de janeiro de 2014

Obras Ferroviárias


Construção de 21 mil km de estradas de ferro no Brasil abre oportunidades de execução de obras civis para construtoras nacionais. Terrenos do entorno das ferrovias tendem a valorizar

A retomada dos investimentos na malha ferroviária brasileira, após três décadas de estagnação, abre oportunidades para projetos de construção e duplicação de ferrovias e de recuperação da infraestrutura existente. As iniciativas já anunciadas para revitalização do setor somam aportes da ordem de R$ 147 bilhões até 2023. “Cerca de 70% das obras das ferrovias são civis”, afirma Vicente Abate, presidente da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária). A participação da construção civil abrange terraplenagem em grande escala, construção de pontes, viadutos, passagens inferiores, valetas, drenos e construção de superestrutura ferroviária.
O primeiro passo para as empresas que pretendem ingressar nesse nicho é obter o atestado de capacitação técnica. A dica é de Luiz Carlos Machado, superintendente de obras da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., administradora dos programas de operação da infraestrutura ferroviária nas ferrovias outorgadas a ela pelo Governo Federal. São cobradas ainda experiências no tipo de obra que será prestado e em projetos de grande porte, além de capital social compatível ao valor do projeto. “A vivência no setor ferroviário, apesar de não ser um pré-requisito, pode ser considerada um diferencial nos processos seletivos”, acrescenta Daher Filho.
Ainda que as demandas abranjam tanto as empresas de pequeno porte quanto as multinacionais, o diretor-executivo da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários), Rodrigo Vilaça, garante uma maior absorção das organizações de maior representatividade na engenharia civil. “Até porque geralmente exige-se suporte econômico expressivo. As obras são de médio e longo prazos, os retornos não são imediatistas”, justifica. “Portanto, por uma característica das próprias obras ferroviárias, se tornam mais propícias as contratações das grandes empresas”, completa.
O desenvolvimento do setor ferroviário conta com o aporte financeiro e a participação direta das três esferas governamentais – federal, estadual e municipal – e do setor privado. “Enquanto os projetos metroviários estão sob gestão dos Estados, os veículos leves sobre os trilhos (VLTs) são gerenciados pelos municípios. Já o TAV (Trens de Alta Velocidade) e as obras de transportes de cargas ficarão a cargo de empresas privadas que conquistarem as concessões do Governo Federal. Há alguns projetos, no entanto, que permanecem no comando do Ministério do Transporte”, descreve Vilaça.
A Valec Engenharia, Construções e Ferrovias é a empresa responsável por gerir os projetos ferroviários pertencentes ao Governo Federal – tais como as ferrovias Norte-Sul e Oeste-Leste. Já a maioria das concessões do setor está nas mãos da Vale, Transnordestina Logística, América Latina Logística (ALL), MRS e Ferrovia Tereza Cristina.
Ao longo de 2010, a Valec prevê a contratação de aproximadamente 40 empresas da área de engenharia civil. “Neste ano, iremos construir cerca de 2.200 km de construção, o que demandará a abertura de 20 lotes de construção”, cita Machado. Por ser uma empresa pública, as contratações são realizadas por meio de licitações. “Ganham as organizações que atendam os pré-requisitos descritos nos editais e apresentem as melhores propostas financeiras”, enfatiza o superintendente, que calcula os valores médios dos contratos de R$ 450 a R$ 500 milhões. Ele orienta ainda que as interessadas fiquem atentas ao site da Valec, ao Diário Oficial da União e aos jornais de grande circulação.
Já as consorciadas, embora não trabalhem com licitações, adotam um processo seletivo similar. “As seleções avaliam as capacidades técnicas das participantes e contratam aquelas que obtiverem o melhor ‘currículo’”, diz o presidente da Transnordestina Logística, Tufi Daher Filho, que promete a retomada das contratações na consorciada a partir de junho de 2010.
Repercussão imobiliária
Os ganhos da engenharia civil com a expansão da malha ferroviária brasileira não se limitam a participação nos canteiros das ferrovias. “A história de que muitas cidades nascem com a chegada de estradas de ferro não é fictícia”, garante Abate, que cita o exemplo de Cruzeiro, município do interior de São Paulo.
Segundo Marcelo Perrupato, secretário de política nacional de transportes do Ministério dos Transportes, a implantação de cada uma das propostas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do PNLT (Plano Nacional de Logística e Transporte) contemplará a reurbanização e o desenvolvimento imobiliário e econômico de suas regiões. “O desenvolvimento ao redor de todas essas localidades onde as novas obras estão sendo feitas geram expectativas perfeitamente justificáveis e o resultado dessas iniciativas serão vistos em breve”, garante o secretário do Ministério do Transporte.
“Por exemplo, com o projeto do TAV, pessoas que moram hoje em São Paulo ou no Rio de janeiro poderão perfeitamente morar em cidades do interior, com mais conforto e qualidade de vida”, cita Perrupato, que acrescenta ainda o aumento na demanda do mercado imobiliário no eixo Rio de Janeiro-São Paulo-Campinas. Na opinião de Abate, também será visível a valorização dos terrenos próximos aos projetos ferroviários. “Sai ganhando quem antecipa a compra de imóveis e terrenos nas redondezas das obras”, alerta.
Por isso, vai a dica: “As iniciativas do governo para revitalizar o setor ferroviário vão atender às regiões onde há expansão da atividade econômica, para promover a integração regional e criar facilidades para a exportação dos produtos nacionais”, diz Perrupato, do Ministério dos Transportes.
Dentre os principais investimentos na expansão da malha ferroviária brasileira previstos para os próximos anos estão a ferrovia Nova Transnordestina, que pretende integrar o Nordeste a partir da ligação do município de Eliseu Martins (PI) aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE), e à Ferrovia Norte-Sul. Outra importante obra para a região é a Ferrovia de Integração Oeste-Leste, de 1.490 km de extensão, que vai ligar o Porto de Ilhéus, na Bahia, a Figueirópolis, em Tocantins. No setor de cargas há também a extensão da Ferronorte e da Ferrovia Norte-Sul. “Com essas e outras obras ferroviárias o Governo Federal interligará os portos da região Norte e Nordeste aos do Sul e do Sudeste do País”, garante Perrupato. Na área de transporte de passageiros, Rodrigo Vilaça, diretor-executivo da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários), ressalta 12 projetos de trens turísticos e o incremento dos trens metropolitanos, principalmente no Estado de São Paulo.
Atualmente, o País tem 29 mil km de linhas ferroviárias. “Número ainda muito inferior se comparado à extensão do território brasileiro”, avalia Abate. Até 2018, a previsão é criar outros 12 mil km de trilhos. A meta é ainda mais audaciosa para 2025, quando se pretende aumentar a cobertura ferroviária no Brasil para 50 mil km, ampliando consecutivamente a participação das ferrovias na opção de transporte de carga e de pessoas.
Mesmo diante das incertezas que as eleições presidenciais de 2010 podem gerar, Vilaça, da ANTF, acredita na continuidade dos projetos ferroviários pré-definidos nos programas nacionais. “Independentemente dos resultados, não há possibilidades de retrocesso. Isso porque além de se tratar de um País considerado a sexta potência do mundo na década, com eventos internacionais significativos sob sua responsabilidade, a logística brasileira precisa reduzir seu custo logístico”, esclarece Vilaça. “É um projeto de País e não de governo. O desenvolvimento do setor ferroviário é a solução para todos os mares”, acrescenta Abate.
Principais obras da malha ferroviária brasileira

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